terça-feira, 19 de julho de 2011

Nada a fazer

Hoje fui almoçar à da minha mãe.
(Releio a frase e reconheço-lhe o regionalismo. Mas é assim que cá se fala, suprimimos palavras e amanhamo-nos bem sem elas.)
Lá fui. (não que a cozinha seja um dos fortes dela, mas porque ainda me tira as espinhas do peixe e é chegar, sentar e comer. Conversar(às vezes) e abalar.)
E para meu espanto a minha avó Lá estava.
A minha mãe nem palavra. Indicou-me o quarto e sumiu-se a caminho da cozinha. Pareceu-me que se arrastava.
A minha avó piorou assim que me viu:
"Ai a avó está muito mal!"
Olhei para ela sem saber o que fazer. É pequenina. Não era suposto ser tão difícil de se gostar.
Ainda sem saber o que dizer dei-lhe beijos repenicados nas bochechas ao mesmo tempo que repetia:
"É a minha avozinha"
Pareceu ser suficiente porque me disse já sem impar:
"A avó precisa é destes miminhos"
pensei um "precisamos todos" que não disse
e sumi-me para junto da minha mãe,
mais calada do que o normal, com aquele olhar de resignação e inevitabilidade tão famoso em Beckett do:
"nada a fazer"
pôs-me o prato na frente:
"vê lá se queres que aqueça"
(com um dar de ombros fingi não me importar, nem mesmo com a espinha que encontrei. Comi também a salada de tomate, que nunca gostei, mas que ela ultimamente não se lembra e me faz com tanto carinho)
A justiça, às vezes ultrapassa-me...

No round two dos beijos. (a minha consciência não me permitiu sair de fininho sem despedidas...)
Ouvi-a falar na velhice
Contou-me a história de uma senhora, cujo filho a meteu num lar quando casou
Contou-me que essa senhora, dizia, ser muito doloroso, ser enfiado num lar, à espera de morrer.
(Não estou certa que uma coisa implique a outra, apesar de saber que é por aí o caminho...)
Não me contou, mas sei que são pensamentos que a afligem também...
Já eu, vivo melhor sem assumir consciência disso..
e Porra, percebo o filho
e ainda bem que moro num T1...
Não sei se a intenção é só adiar por uns anitos a ida para o jardim das tabuletas (sei, nada romântica esta expressão), ou se quer mesmo cancelar a viagem:
"a avó não gostava de morrer sem te ver vestida de branco"

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