segunda-feira, 18 de julho de 2011

Have we met?

Os dias passam desenfreados e bocados de frases passam em rodapé..
Devia guardá-las.
Gostava de as ler mais tarde, com calma.
Lembrá-las.
Parecem-me sempre mais aprumadas enquanto passam.
Ao escrever aparecem-me as bainhas do português a atrapalhar as ideias.
"A menina não sabe pôr vírgulas."
Respondo:
"Pois não"- contrariada,
e como se falasse para a professora que não me soube ensinar respingo:
"mas gostava de aprender..."
O tempo é tão curto e eu cada vez com mais coisas para dizer...
acho que me dá jeito.
estas vontades que me assolam têm-me levado
por caminhos onde me ocupo e me encho de motivos para ficar, sem tempo.
Que maravilha a falta que ele me faz...
a mim e à solidão que nunca me abandonou...
Vivo a minha solidão acompanhada e lembro-me do diálogo:
"-: Do you ever feel lonely?
-: Only around people."
nem sei de onde me veio isto agora... (referência ao filme barreira invisível do Terrence Malik)
Tal como não sei de onde me vem o gosto pelas palavras.
O porquê do aperto no estômago e do tanto que elas ressoam em mim.
A culpa é do António. Senhor António seria mais adequado. Ou Doutor, afinal tenho-o em muitíssima conta, mas desconfio que prefere António... O Lobo Antunes.
Foi ele que me voltou a trazer o desasossego e me empurrou para este momento.
Ou então foi a Joana.
Coitada da Joana...
Já nem sei se me sinta mal ou se tenha vergonha.
Tanta amizade para nada.
Ela fica pr'ali jogada e eu pr'aqui. a passar-lhe em frente da porta todos os dias,
atropelando a minha culpa, com a desculpa:
"fico mal se lá for..."
A minha avó também não tem culpa mas também a ando a protelar... a evitar mesmo.
aborrecem-me os queixumes e o meu mau feitio não me permite ficar calada...
Avó do venha a nós. o vosso reino nada.
Desde miúda que a oiço dizer que não chega ao Natal.
Tem chegado sempre e:
"Ponham-me aqui tudo na frente que já sou velha." -isto já aos cinquenta...
Imaginem agora que já passou dos oitenta. Quase trinta e cinco de fitas a apregoar:
"Acudam!!"
E agora já nenhuma de nós com paciência,

A minha irmã diz que desta vez ela não está nada bem.
(Logo agora que não se dá com a minha mãe.)
Não sei porquê a manobra de diversão.  A eterna manipulação.
No meio disto tudo tenho uma imensa pena (sim, sim já sei... )
da minha mãe.
(apesar de todas as razões de queixa que também tenho da sua pessoa)
tenho-lhe uma imensa pena por tudo o que já passou.
Eu não teria conseguido fazer melhor.
Acho que ninguém...
Bem sabia o António que eu tinha que voltar a escrever... Já há mais que tempos a protelar.. e a atafulhar.
Chorar não resolve.
Rir não é solução.
Pensar, pensar, pensar, mantém.
Só o escrever põe no lugar.
Deixa morrer.
Depois de escrito resgata-se a vida e sacodem-se as saudades.
Fica guardado e há sempre a possibilidade de vir mexer...
Have we met?
(...)
Desculpem mas não me preparei para vos receber.
Não tinha pensado em nada, como sempre... Não sabia nome, nem sobre o que é que ia falar. ´Sabia só desta vontade que me consomia e me pedia:
"Volta a escrever!"
Cada vez sei menos..
Já há algum tempo que não me inquietavam desta maneira. As frases que perco por não escrever.
"se for de guardar elas voltam"
Nunca voltam. Passam lentas, incontornáveis, sem hipótese de lhes prender o tino, como um nubífugo de palavras.
Tal como na Joana tento não pensar nisso. Tento não ter pena. (permitam-me fingir que não reparei que mais uma vez sinto pena).
Aprender a perder é o que me lembro. Dizem que tenho de aprender a perder.
A minha avó há-de entender.

4 comentários:

  1. Não me digas que vou inaugurar a caixa de comentários?

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  2. E pronto, agora que inaugurei, comentemos o texto. Não há grande mal em não saber usar as vírgulas, desde que não sejas discípula do Saramago. Aí sim, teríamos de ter uma conversinha. E se escrever te ajuda, pois força nesse teclado, a mim salvou-me.

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  3. o Antonio tem efeitos desses? fico preocupado com a minha dealer...

    vou-me embora! nem uns comicios e bebicios para receber as visitas aqui há...

    ainda quanto às palavras, apesar de poderem parecer o que não são e por isso não lhes dar tanta valor como aos gestos, há sempre alguém que as usa de forma correcta e aí valem a pena (desde que não sejam muitas, certo?)

    (concordo contigo sobre a "pena")

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  4. Rafeiro: Do Saramago só lhe vi o filme, que aconselho por sinal. O filme dá a conhecer o homem por detrás do nome e a sua mulher, também ela Pilar...
    Quanto ao resto andamos todos ao mesmo.. mas salvar ninguém se salva ;P

    Vício: Bem vindo a esta minha nova casa. Quanto ao valor das palavras.. tenho vindo a aprender que também há gestos desprovidos de verdade.. tornando ainda mais difícil saber...
    E sim, reconheço, sempre precisei de palavras a mais..

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